Apresentação do arquitecto Eliseu Gonçalves sobre os primórdios da questão habitacional e social no Porto referindo como exemplos concretos os Bairros Operários do Comércio do Porto (1899-1914) e Blocos da Rua Duque Saldanha (1938-1940).
Este apresentação foi feita no âmbito do Colóquio Científico Internacional realizado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 19 e 20 de Julho de 2010, de Apresentação de Resultados do Projecto PTDC/SDE/69996/2006 Ilhas, bairros sociais e classes laboriosas: um retrato comparado da génese e estruturação das intervenções habitacionais do Estado na cidade do Porto e das suas consequências sociais (1956-2006), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
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Duração total: 28:47
Um dos objectivos deste trabalho foi perceber dentro de uma cultura arquitectónica como nasce uma arquitectura da casa especificamente dirigida para o alojamento operário.
Nesse sentido, Eliseu Gonçalves refere a “polémica que nas primeiras décadas do séc. XX animava a politica de realojamento operário – utilização da casa unifamiliar (…) promovendo uma ocupação extensiva do território e por oposição o recurso a edifícios de habitação colectiva a instalar na cidade consolidada em parcelas livres ou a libertar”.
A preferência, no inicio do século xx, pela moradia isolada, mais do que resolver a função abrigo, permitiria um controlo higiénico e sanitário de acordo com as teorias higienistas da altura e mesmo no inicio do Estado Novo, trinta anos depois, mantém-se clara a preferência pela casa unifamiliar consubstanciada no decreto-lei 23 052 de 1933 que apresenta a casa económica como moradia de família com quintal.
Uma das pessoas importantes nesta questão é Ricardo Jorge, nomeadamente através do seu livro “Higiene Social Aplicada à Nação Portuguesa” (1884). Convidado a trabalhar na Câmara Municipal do Porto, leva a cabo estudos que funcionaram como fundamento cientifico para o lançamento de propostas profiláticas.
De referir a definição em 1895 da obrigatoriedade de instruir os processos de licenciamento com plantas, cortes e alçado e pormenores de redes de saneamento que é actualmente um instrumento precioso de investigação.
Eliseu Gonçalves refere ainda que a questão da higiene e salubridade foi a que conseguiu canalizar diferentes partes interessadas, como industriais, engenheiros, cientistas, médicos, jornalistas, etc. para a resolução da questão da habitação social na medida em que a arquitectura não estaria inicialmente interessada neste tema.
Apesar de tudo continuavam a prosperar as ilhas sendo praticamente inexistente participação do Estado na construção de casas de custo controlado tendo esse papel sido desempenhado por privados numa perspectiva filantrópica, ou associado às fábricas que operavam na cidade, e também como interesse imobiliário.
O caso do Bairro Operário do Comércio do Porto é um desses exemplos tendo sido construído como resultado da capacidade mobilizadora do director do jornal, Bento Carqueja que conseguiu financiar a sua construção através do apoio de beneméritos incluindo a família real.
Em parte para responder ao surto de peste bubónica de 1899 estas construções pretendiam criar hábitos de higiene e eram soluções de baixa densidade.
Os blocos da Rua de Duque Saldanha são uma resposta mais pragmática a um problema prático – como resolver o problema de habitação de 60.000 pessoas que moravam em ilhas nas altura.
É uma solução experimental que choca com as soluções então vigentes e que é vitima de um processo conturbado (definição de cérceas, programa, instalação de equipamentos nos bairros, …)
Mas no final é construído e introduz uma arquitectura branca, moderna e internacional, diferente da “arquitectura verdadeiramente portuguesa”.
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